quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Um Foguete para o Céu



Ainda lembro, nos meus tempos de criança, de vê-los subindo, grandes tochas de chama flamejante riscando o céu e deixando atrás de si uma trilha de branca e volumosa fumaça, como era incrível aquela imagem, o trovejar dos grandes motores, daqueles foguetes imensos partindo com sua bagagem humana para além das estrelas.

E eu um dia também faria aquela viagem.
Já estava muito velho, mas enfim chegava minha hora, olho para trás uma última vez, aquele mundo fétido e sombrio que em nada lembrava o que nossos antepassados descreviam para nós, sem flores, sem riachos, sem aves, apenas uma rocha escura e sem vida, contaminada pelo lixo e pela radiação.
Lá está um foguete a minha espera e junto a muitas outras pessoas penetro em sua interior. Quando os poderosos motores expelem seu combustível incandescente, sinto uma aceleração tremenda comprimindo meu corpo velho e decrépito, o sofrimento enorme suportado apenas pela promessa de ver um novo mundo. E depois de segundos de penosa subida tudo fica mais leve, a gravidade deixa de agir, as dores de homem senil me abandonam finalmente, olho por uma pequena portinhola e vejo o firmamento, estrelas a perder de vista como jamais vi, e lá longe, ficando cada vez mais distante, um planeta agonizante, uma rocha que um dia chamamos de lar.
Não havia tempo para lamentações, o corpo novamente conhece as dores, um frio terrível me invade penetrando em cada um de meus ossos, o sono daqueles que viajam pelas estrelas me atinge e minha mente hiberna congelada por incontáveis eras.
Mas tudo passa como se fosse um breve instante, pois acordo, sinto a gravidade agir novamente, sinto o peso da carne forçar os meus ossos, o frio que antes sentia é substituído por um calor reconfortante. Abro os olhos, já não estou mais no foguete, agora é uma nave diferente que desce para um planeta muito distante daquele que deixei.
E pousamos, como eu várias peregrinos deixam a nave, e lá fora meus pés tocam um solo diferente, há verde, há flores, há aves no céu, há riachos de águas cristalinas.

E meu coração, cansado e sofrido pelas agruras da vida numa Terra devastada, se emociona e dá suas últimas batidas. Caio ao chão, minha vida se esvai, suportei a viagem, mas não suportei a chegada. Não importava, já podia morrer, pois tinha chegado à terra prometida.

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