Ainda lembro, nos meus
tempos de criança, de vê-los subindo, grandes tochas de chama flamejante
riscando o céu e deixando atrás de si uma trilha de branca e volumosa fumaça,
como era incrível aquela imagem, o trovejar dos grandes motores, daqueles
foguetes imensos partindo com sua bagagem humana para além das estrelas.
E eu um dia também
faria aquela viagem.
Já estava muito velho,
mas enfim chegava minha hora, olho para trás uma última vez, aquele mundo
fétido e sombrio que em nada lembrava o que nossos antepassados descreviam para
nós, sem flores, sem riachos, sem aves, apenas uma rocha escura e sem vida,
contaminada pelo lixo e pela radiação.
Lá está um foguete a
minha espera e junto a muitas outras pessoas penetro em sua interior. Quando os
poderosos motores expelem seu combustível incandescente, sinto uma aceleração
tremenda comprimindo meu corpo velho e decrépito, o sofrimento enorme suportado
apenas pela promessa de ver um novo mundo. E depois de segundos de penosa
subida tudo fica mais leve, a gravidade deixa de agir, as dores de homem senil
me abandonam finalmente, olho por uma pequena portinhola e vejo o firmamento,
estrelas a perder de vista como jamais vi, e lá longe, ficando cada vez mais
distante, um planeta agonizante, uma rocha que um dia chamamos de lar.
Não havia tempo para
lamentações, o corpo novamente conhece as dores, um frio terrível me invade
penetrando em cada um de meus ossos, o sono daqueles que viajam pelas estrelas
me atinge e minha mente hiberna congelada por incontáveis eras.
Mas tudo passa como se
fosse um breve instante, pois acordo, sinto a gravidade agir novamente, sinto o
peso da carne forçar os meus ossos, o frio que antes sentia é substituído por
um calor reconfortante. Abro os olhos, já não estou mais no foguete, agora é
uma nave diferente que desce para um planeta muito distante daquele que deixei.
E pousamos, como eu
várias peregrinos deixam a nave, e lá fora meus pés tocam um solo diferente, há
verde, há flores, há aves no céu, há riachos de águas cristalinas.
E meu coração, cansado
e sofrido pelas agruras da vida numa Terra devastada, se emociona e dá suas
últimas batidas. Caio ao chão, minha vida se esvai, suportei a viagem, mas não
suportei a chegada. Não importava, já podia morrer, pois tinha chegado à terra
prometida.
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